quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

TIPOLOGIA DE PROPÓSITOS DE PESQUISA E PESQUISA-AÇÃO

Fonte do Quadro: Patton, M. Q. Qualitative Evaluation and Research Methods. Sage Publications, 1990.
Obtido de http://spu.autoupdate.com/ler.php?modulo=21&texto=1370
Baixado em sexta-feira, 02 de fevereiro de 2007

TIPO DE

PESQUISA

PROPÓ-

SITOS

FOCO DA

PESQUISA

RESULTADOS

ESPERADOS

NÍVEL DE Generalização

Esperado

HIPÓTESECHAVE

PARÂMETRO DE

JULGAMENTO

PESQUISA

BÁSICA

Conhecimento.

Como um fim em si mesmo;

descoberta da

verdade.

Questões consideradas

importantes para área de estudo ou

interesse intelectual

pessoal.

Contribuição para a teoria.

Através do tempo e do

espaço (ideal).

O mundo é padronizado,

seus padrões

são

conhecidos e

explicáveis.

Rigor da

pesquisa,

universalidade e

verificabilidade

da teoria.

PESQUISA

APLICADA

Entender a

fonte e a natureza dos

problemas

humanos.

Questões consideradas

Importantes pela sociedade.

Contribuição para teorias que podem ser usadas para formular programas e

intervenções de resolução de problemas.

Tão generalizável no tempo e no espaço quanto

possível, mas limitado ao

contexto de aplicação.

Os problemas humanos e

sociais podem ser entendidos e

solucionados com conhecimento.

Rigor e discernimento

teórico em

relação ao

problema.

Avaliação de

Resultado

Determinar a

efetividade

de intervenções

e ações humanas

(programas, políticas, pessoal,

produtos).

Metas de

intervenção.

Julgamento e generalizações sobre tipos efetivos de

intervenções e condições sobre

as quais os esforços são

efetivos.

Todas as intervenções

com metas similares.

Aquilo que se aplica a uma

situação sob condições

específicas deve aplicarse

a outras situações.

Generalidade

para esforços

futuros e para

outros programas

e fins políticos.

Avaliação

formativa

Aperfeiçoando

Uma intervenção: um programa, uma política, organização ou produto.

Pontos fortes e

fracos de um programa, política, produto ou pessoal envolvido no estudo.

Recomendar

melhoramentos.

Limitado à situação

Específica estudada.

As pessoas podem ou vão usar

Informação para melhorar

o que estão fazendo.

Utilidade e uso

real por usuários

intencionais na

situação

estudada.

PESQUISAAÇÃO

Resolução de

problemas

em um

programa,

organização

ou

comunidade.

Problemas

organizacionais

e

comunitários.

Ação imediata;

Resolver problemas tão rápido quanto

possível.

Aqui e agora.

Pessoas em uma situação

Podem solucionar problemas

através do estudo destes.

Impressões sobre

o processo entre

os participantes

da pesquisa;

possibilidade da

solução gerada.

"Pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e

realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e

no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou problema estão

envolvidos de modo cooperativo ou participativo." (THIOLLENT)

A pesquisa-ação é uma forma de experimentação em situação real, na qual os pesquisadores

intervêm conscientemente. Os participantes não são reduzidos a cobaias e desempenham um papel ativo. As

variáveis, de seu lado, não são isoláveis, posto que todas elas interferem no que está sendo observado.

Portanto, assim como nas outras pesquisas da linha interpretativista, a substancialidade dos pesquisadores

não é total, pois o que cada pesquisador observa e interpreta nunca é independente da sua formação, de

suas experiências anteriores e do próprio "mergulho" na situação investigada.

Sobre a concepção e organização da pesquisa-ação, podemos considerar que o planejamento de uma

pesquisa-ação é dotado de uma flexibilidade considerável. Contrariamente a outros paradigmas, ele não

segue uma série de fases ordenadas de forma rígida. Portanto, os momentos aqui relatados são necessários

à efetivação da pesquisa, contudo, não precisam seguir a ordem proposta.

Momento 1 - Fase Exploratória - É o momento de diagnosticar a realidade do campo de pesquisa.

Estabelece-se a partir dele, um primeiro levantamento da situação, dos problemas de primeira ordem, e de

eventuais ações. O diagnóstico portanto, vai localizar o que falta no contexto investigado: educação,

recursos, entre outras coisas. Então, após o levantamento das informações iniciais, pesquisadores e

participantes se dedicam a estabelecer os principais objetivos da pesquisa. Objetivos estes que se interligam

aos problemas prioritários, ao campo de observação, aos atores e ao tipo de ação que pretende-se focalizar

no processo investigativo.

Momento 2 - O Tema da Pesquisa - A definição do tema da pesquisa é o momento de designar o problema

prático e a área de conhecimento a ser abordada. Na maioria das vezes, o tema é escolhido com base em

compromissos assumidos entre a equipe de pesquisadores e os sujeitos da situação investigada. Portanto, o

tema deve tanto interessar aos pesquisadores como aos sujeitos investigados, para que todos desempenhem

um papel eficiente no desenvolvimento da pesquisa. Pode acontecer, e não é raro, do tema ser solicitado

pelos atores da situação. Neste mesmo momento ainda, um marco teórico específico é escolhido para

nortear a pesquisa. Assim, nesta fase, faz-se necessário também a pesquisa bibliográfica.

Momento 3 - A Colocação dos Problemas - É o momento de definir uma problemática na qual o tema

escolhido ganhe sentido. A colocação dos problemas abarca os seguintes pressupostos: "a) análise e

delimitação da situação inicial; b) delineamento da situação final, em função de critérios de desejabilidade

e factibilidade; c) a identificação de todos os problemas a serem resolvidos para permitir a passagem de (a)

para (b); d) planejamento das ações correspondentes; e) execução e avaliação das ações". Nesta fase,

portanto, é necessário discutir a relevância científica e prática do que será pesquisado. Dessa forma, seria

possível redirecionar a pesquisa ou até mesmo suspendê-la.

Momento 4 - O Lugar da Teoria - O projeto de pesquisa-ação precisa estar articulado dentro de uma

determinada realidade com um quadro de referência teórica que é adaptado de acordo com o setor em que

se dá a pesquisa. As informações que serão levadas ao seminário devem, portanto, ser interpretadas à luz de

uma determinada teoria.

Momento 5 - Hipóteses - Apesar de termos a falsa concepção de que na linha interpretativista de pesquisa

não existem hipóteses, é chegado o momento de pensar com cuidado acerca desta proposição. Temos de

compreender as hipóteses como suposições formuladas pelo pesquisador a respeito de possíveis soluções

para um problema colocado na pesquisa. Neste sentido, o uso do procedimento hipotético é fundamental

para que a partir de sua formulação o pesquisador identifique as informações necessárias, evitando a

dispersão e focalizando segmentos determinados do campo de observação. Neste sentido, na linha

interpretativista pode-se dizer acerca da formulação de hipóteses, contudo, estas não são testadas.

Em verdade, assumem um caráter de condutoras do pensamento.

3

Momento 6 - Seminário - O seminário desempenha o papel de exame, discussão e tomada de decisões

acerca da investigação. Além disso, ele desempenha também a função de coordenar as atividades dos

grupos. Cabe ressaltar ainda que as reuniões de seminário dão lugar a atas. Algumas das principais tarefas

do seminário são: "1 - Definir o tema e equacionar os problemas para os quais a pesquisa foi solicitada. 2 -

Elaborar a problemática na qual serão tratados os problemas e as correspondentes hipóteses da pesquisa. 3

- Constituir os grupos de estudos e equipes de pesquisa. Coordenar suas atividades. 4 - Centralizar as

informações provenientes das diversas fontes e grupos. 5 - Elaborar as interpretações. 6 - Buscar soluções e

definir diretrizes de ação. 7 - Acompanhar e avaliar as ações. 8 - Divulgar os resultados pelos canais

apropriados." (p.59)

Momento 7 - Campo de Observação, Amostragem e Representatividade Qualitativa - Uma pesquisaação

pode abranger uma comunidade geograficamente concentrada ou espalhada. A questão da

amostragem e da representatividade é fator discutível: alguns excluem a pesquisa por amostra; Outros

recomendam o uso de amostragem; e uma terceira posição ainda, consiste na valorização de critérios de

representatividade qualitativa.

Momento 8 - Coleta de Dados - Efetuada por grupos de observação e pesquisadores sob controle do

seminário central. As principais técnicas utilizadas são a entrevista coletiva ou individual, questionários

convencionais, estudo de arquivos ou jornais. São montados diversos grupos de observação. Para isso faz-se

um treinamento específico do pessoal. Todas as informações coletadas pelos diversos grupos de observação

e pesquisadores de campo são transferidas ao seminário central, onde são discutidas, analisadas,

interpretadas.

Momento 9 - Aprendizagem - Na pesquisa-ação tem-se a associação entre uma capacidade de

aprendizagem ao processo de investigação. Para Thiollent, tal associação tem relevância especialmente na

pesquisa educacional. Vale lembrar que a concepção de colaboração entre os participantes assemelha à

nossa proposta. Porém, é possível entrever tal colaboração apenas numa perspectiva do pesquisador para

com o pesquisado. A colaboração entre pares e aquela entre pesquisado e pesquisador são esquecidas.

Momento 10 - Saber Formal e Saber Informal - Partindo da suposição de que há diferentes formas de

saber, num primeiro momento, os pesquisados são levados a descrever a situação ou o problema focalizado

buscando explicação e solução para eles. Neste sentido, encontramos também uma aproximação com nossa

proposta. Contudo, os quatro passos intrínsecos à escritura de diários não se fazem presentes na pesquisaação.

O se que tem, na verdade, é a comparação de temáticas procurando mostrar zonas de

compatibilidades e incompatibilidades. O uso da comparação é um ponto de partida que consiste em

mapear os dois universos de representação (saber formal X saber informal) e em buscar meios de

intercompreensão.

Momento 11 - Plano de Ação - A elaboração do plano de ação consiste em definir com precisão:

"a) Quem são os atores ou as unidades de intervenção?; b) Como se relacionam os atores e as instituições:

convergência, atritos, conflito aberto?; c) Quem toma as decisões? d) Quais são os objetivos (ou metas)

tangíveis da ação e os critérios de sua avaliação? e) Como dar continuidade à ação, apesar das

dificuldades? f) Como assegurar a participação da população e incorporar suas sugestões; g) Como

controlar o conjunto do processo e avaliar os resultados?"

Momento 12 - Divulgação externa - Além de dar o retorno aos participantes da pesquisa, é possível

divulgar seus resultados em eventos, congressos, conferências, etc. Para contemplar esse momento, os

pesquisadores recebem um treinamento que inclui técnicas de apresentação de resultados, técnicas de

comunicação por canais formais e informais, técnicas de organização de debates públicos, suportes

audiovisuais, entre outros.

Bibliografia do texto:

THIOLLENT, Michel. METODOLOGIA DA PESQUISA-AÇÃO São Paulo: Cortez, 2000.

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